sexta-feira, 29 de março de 2019

OS INVISÍVEIS

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Depois do evento da colação de grau, quando as lágrimas se derramaram fartas sobre os ombros de minha filha e pelos meus, provavelmente pela aliança entre as nossas lembranças e presenças invisíveis importantes, o sono se perdeu pelos caminhos da noite.

Passava das duas da madrugada quando o filme terminou e eu decidi ler um dos jornais. Liguei o computador e esperei que ele concluísse o lento caminho até a liberação do conteúdo. Afinal, essas máquinas são construídas para que a sua obsolescência prematura nos leve ao consumismo desenfreado ou “necessário”, que abarrota a natureza do chamado “lixo eletrônico”... Vamos irremediavelmente a caminho do fim!

O diário, esse vício que já teve melhores razões, já estava “on line” e eu viajei rapidamente por aquilo que talvez atenda à nossa curiosidade e masoquismo irrefreáveis, mas desgasta sobremaneira aos que analisam e não se curvam aos ditames do mercado de consumo da notícia, da (de) formação do cérebro e do que resta de sua capacidade analítica.

O trajeto foi curto e desgastante, como quando se tenta promover uma carreira com gente de idade provecta, como eu; ainda na Ponta da Praia tropecei em uma “pedra de toque” e me deixei ficar ali, sentado junto ao meio-fio da moralidade, perdido em pensamentos sobre os invisíveis.

De volta à realidade esbocei algumas linhas com o título “Eu na Contramão”, mas a carcaça cansada e o emocional aquecido fizeram com que eu deixasse de lado aquelas análises tolas sobre uma realidade imutável.

Abri os olhos logo cedo, mas me deixei ficar ao sabor da preguiça liberal que a idade nos concede. Entretanto, os vícios usualmente são mais fortes que a nossa racionalidade ou que a nossa força de vontade e logo estava eu, aqui, defronte a essa máquina viciante – tão ou mais viciante que aquelas outras, coloridas, que abarrotam cassinos e casas de jogos clandestinas – dedilhando essas teclas sensíveis, procurando enxergar onde se escondem os “invisíveis”, aqueles seres que, apesar de idade avançada, nunca foram vistos pelos “agentes” de pesquisas que sempre cumprem as missões impostas e usualmente chegam aos resultados esperados.

Carlos Gama.
29/03/2019 11:50:37
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