quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Acefalia

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Não é de hoje que se vem notando a acefalia na gestão da cidade, fato que não se percebe quando o interesse de alguns grupos se impõe e se sobrepõe à lógica, quando não em atropelo às mais básicas regras de moralidade administrativa.

Mas, deixemos para outro momento as questões da Ponta da Praia, da área de manobras da extinta Estrada de Ferro Sorocabana e do traçado do V.L.T. para enveredarmos pelas calçadas da cidade.
Calçadas que, depois do projeto de simplificação dos pisos, vivem esburacadas e atravancadas pelo uso incorreto desses espaços que deveriam servir ao pedestre, mas que são ocupadas por mesas, cadeiras, carrinhos de pastel, de churros e por churrasqueiras.

Sim, esses espaços são usados para outros fins – muitas vezes impedindo a passagem do pedestre, que deve usar o leito carroçável – porque a prefeitura os aluga ou negligencia a fiscalização quando não há permissão de uso.

Além do impedimento de passagem, na maioria dos casos, os usuários desses locais promovem algazarras constantes, sem nenhum respeito aos limites de volume de som e nem aos horários de descanso dos cidadãos que trabalham e pagam seus impostos, para sustentar uma máquina administrativa capenga e ineficiente.

Carlos Gama.
27/11/2019 14:08:46
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domingo, 24 de novembro de 2019

A Vida

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Uma pequena vila liga a rua esburacada à avenida que margeia um dos velhos canais da cidade. Ao longo desse correr de casas viviam duas pitangueiras produtivas que enfeitavam de cores, brindavam com seu aroma o entorno e faziam a alegria das crianças, dos sanhaços e de outros viventes despertos.

A insensibilidade humana decidiu e o silêncio comum permitiu que ambas fossem cortadas rés ao chão. Dói o coração!

No fundo do quintal da Pinacoteca, em companhia de uma caramboleira e de uma jaqueira, outra pitangueira sobrevive altaneira, enchendo de prazeres o nosso olhar e o estômago dos pequenos alados que por ali ainda revoam.

A luta entre o bem e o mal é parte da história do homem, mas o primeiro haverá sempre de vencer e nos garantir a sobrevivência.

O encontro fora adiado, mas o desejo pelo café acabou conduzindo o homem até aquele trecho tão querido; uma querença que sobrevive na simplicidade já antiga daquele conjunto de lojas de roupas, barbearias, doçarias e cafés, que fazem o agrado das gentes novas e mais ainda das antigas, como ele.

O livro aberto foi sendo folheado aos poucos e os aforismos escritos há tanto tempo iam sendo relembrados, o olhar vagueava também pelas cercanias sem se deter em excesso nas jovens mães com os bebês em seus carrinhos, na dupla de amigas concentradas no tema da conversa ou em um ou outro homem desacompanhado, quase como ele...

O sol descaindo no azul já esmaecido dizia ser hora de retornar a casa.

Na espera, diante do semáforo vermelho, persistia a dúvida sobre voltar a pé ou tomar um ônibus; a preguiça falou mais alto. Cruzou a Oswaldo Cruz e em seguida a Lobo Viana. Alguns metros adiante, uma senhora apoiada em sua bengala deixava que o seu olhar se perdesse entre a ramagem da árvore antiga. Passou por ela com cuidado, naquele reduzido espaço entre o canteiro e o muro do prédio de três andares. Pouco mais de dez passos dados e ele retorna para conversar com ela, pois percebera durante a passagem, que naquele canteiro havia também uma árvore de menor porte e que era nela que se concentrava a atenção da senhora. A similitude de energias sempre facilita o contato. O pé de acerola, que já dera o primeiro fruto, fora plantado pelo faxineiro do prédio onde ela reside; no canteiro seguinte, uma laranjeira chegara pelas mesmas mãos. No outro lado do muro, uma amoreira ainda virgem tivera os seus cuidados e ao lado percebia-se uma pitangueira, que ela mesma também plantara. Depois da despedida ele prossegue na direção do ponto de parada de ônibus, não sem antes se deter alguns segundos para olhar e perceber que a sacada da sala do apartamento do velho amigo agora estava envidraçada.

Não demorou muito para chegar em casa para o almoço; passava das seis da tarde.

Estômago cuidado, louça lavada e enxuta, era hora de pegar o guarda-chuva – nunca se sabe! – e se encaminhar para a reunião das sextas-feiras.

Atravessa a vila, chega ao canal e dali os passos prosseguem em direção da linha da máquina... Envereda pela Barão de tão boas e antigas lembranças e ao se aproximar da pitangueira amiga, percebe-a mutilada, galhos partidos chegando até o chão. Apenas um crime a mais!

Sentiu todo o seu desalento, quando por ela passou. Pensou então no pesar de todos aqueles que devotam amor ao outro e têm certeza que todos os irracionais, animais e vegetais, também sofrem dor e tristeza.

Carlos Gama.
26/10/2019 15:09:14
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sábado, 2 de novembro de 2019

No Mundo da Fantasia

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Acentua-se a cada dia o faz-de-conta entre os gestores e o povo da nossa cidade. O poder público diz que faz, o cidadão faz que acredita e vamos sobrevivendo em meio ao caos enraizado.

Vamos sobrevivendo aos tropeços nas calçadas esburacadas, vamos escapando (quando dá!) dos riscos de atropelamento, especialmente nas “faixas de segurança” e continuamos fazendo de conta que está tudo bem e que a nossa cidade é o paraíso dos idosos. Sim, num ponto ela é mesmo: na chanura de sua topografia natural.

Eu gostaria de sugerir (se é que pode lhes interessar) aos canais de televisão - que exploram a curiosidade e a morbidez humanas, divulgando cenas de acidentes fatais - que colocassem uma câmera 24 horas em um ponto estratégico da cidade, para mostrar o respeito que têm alguns motoristas, motociclistas (dos ciclistas nem se fala!) pelos transeuntes, nas faixas de pedestres onde haja um semáforo ou até em cima das calçadas.

Poderia ser no início da Rua Galeão Carvalhal, ali no Gonzaga, bem juntinho da Praça da Independência. Uma câmera colocada em posição estratégica, de forma o mostrar o semáforo, a faixa de travessia e os veículos que por ali transitam.

Com certeza serão inúmeras as cenas de tentativa de homicídio e de suicídio gravadas por esse olho mágico, do qual a prefeitura reluta em fazer uso, pois vai mostrar a realidade e a inércia dela própria.

Haverá cenas inusitadas, se por ali passar algum agente da CET, da Guarda Municipal ou da Polícia Militar e, olhe que é o coração do Gonzaga.

O canal de televisão que se dispuser a fazer uso desta sugestão, naquele ponto poderá captar caminhão transitando na contramão de direção, motocicletas saindo do estacionamento da praça e enveredando pela calçada, para adentrar a Rua Galeão Carvalhal, isso quando não vierem pelo passeio dessa mesma via, em direção da Praça da Independência. Poderá flagrar também todo o tipo de veículo automotor cruzando o semáforo aberto para pedestres ou vários desses – alguns empurrando carrinhos com bebês – também atravessando no vermelho.

Carlos Gama.
02/11/2019 23:36:35
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