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Flávia, minha sobrinha, compartilhou na internet um
pensamento sobre o comportamento cidadão: “O meu lixo eu levo comigo aonde eu
for”.
Era isso ou algo
parecido, mas a importância está em mostrar como age um cidadão, uma pessoa
consciente, essa raridade que faz mais falta a cada dia nesta sociedade do cada
um por si.
Foi esse
pensamento que me fez voltar ao sábado à tardinha, quando eu ia, já meio
apressado, até o Gonzaga, com a obrigação de voltar o quanto antes, para
receber os filmes que o Vídeo Paradiso iria me enviar.
Segui pelo longo
quarteirão e me preparei para cruzar a avenida Washington Luiz naquela base do
“arrisca”, pois o semáforo de pedestres está desativado ou com defeito, há
meses.
Não foi difícil
a travessia, porque nesse dia e horário o movimento é apenas uma ínfima parte
daquilo que acontece durante toda a semana em qualquer horário e nos sábados
até a hora do almoço.
Talvez
devêssemos convidar o alcaide e o presidente da CET (que parece ser amigo do
dono da peixaria, na esquina) - se eles conseguirem andar a pé - para fazerem
conosco a travessia, ali, em um dia de semana.
Concluí aquela
travessia - na tarde de anteontem - e cheguei incólume ao outro lado do canal.
Prossegui pela calçada do posto de gasolina, a caminho do ponto de ônibus.
À minha frente
seguia uma mulher simples, com roupas simples, calçando um par de sandálias
também muito simples; coisas que eu notei depois de me despedir dela, no ponto
de parada de ônibus.
Sim, ela seguia
à minha frente, mas eu só notei quando - logo depois do posto – ela voltou
sobre si mesma e veio em minha direção. Parei quando ela se abaixou para pegar
um pequeno, um minúsculo pedaço de papel de bala, que deixara cair.
Num tom de
justificativa afirmou, naquele seu sotaque nordestino e carregado, que era dela
a responsabilidade de levar aquele pedaço de papel até encontrar uma lixeira ou
até chegar em casa.
Cumprimentei-a;
falei desse bom hábito nos meus filhos e também nos meus netos e ela conclui:
-Ah, se cada um
fizesse a sua parte...
Continuou em sua
trajetória, atravessou a avenida e eu fui seguindo-a com o olhar, até quando
ela parou na beira da calçada, cruzou a outra pista da avenida e depois
desapareceu na rua Barão de Paranapiacaba, em direção da Conselheiro.
Lá ia, em seus
trajes simples e com seu jeito também simples, uma raridade, uma cidadã
consciente de seu papel no mundo.
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