terça-feira, 26 de maio de 2015

A RISCADO

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Flávia, minha sobrinha, compartilhou na internet um pensamento sobre o comportamento cidadão: “O meu lixo eu levo comigo aonde eu for”.

Era isso ou algo parecido, mas a importância está em mostrar como age um cidadão, uma pessoa consciente, essa raridade que faz mais falta a cada dia nesta sociedade do cada um por si.

Foi esse pensamento que me fez voltar ao sábado à tardinha, quando eu ia, já meio apressado, até o Gonzaga, com a obrigação de voltar o quanto antes, para receber os filmes que o Vídeo Paradiso iria me enviar.

Segui pelo longo quarteirão e me preparei para cruzar a avenida Washington Luiz naquela base do “arrisca”, pois o semáforo de pedestres está desativado ou com defeito, há meses.

Não foi difícil a travessia, porque nesse dia e horário o movimento é apenas uma ínfima parte daquilo que acontece durante toda a semana em qualquer horário e nos sábados até a hora do almoço.

Talvez devêssemos convidar o alcaide e o presidente da CET (que parece ser amigo do dono da peixaria, na esquina) - se eles conseguirem andar a pé - para fazerem conosco a travessia, ali, em um dia de semana.

Concluí aquela travessia - na tarde de anteontem - e cheguei incólume ao outro lado do canal. Prossegui pela calçada do posto de gasolina, a caminho do ponto de ônibus.

À minha frente seguia uma mulher simples, com roupas simples, calçando um par de sandálias também muito simples; coisas que eu notei depois de me despedir dela, no ponto de parada de ônibus.

Sim, ela seguia à minha frente, mas eu só notei quando - logo depois do posto – ela voltou sobre si mesma e veio em minha direção. Parei quando ela se abaixou para pegar um pequeno, um minúsculo pedaço de papel de bala, que deixara cair.

Num tom de justificativa afirmou, naquele seu sotaque nordestino e carregado, que era dela a responsabilidade de levar aquele pedaço de papel até encontrar uma lixeira ou até chegar em casa.

Cumprimentei-a; falei desse bom hábito nos meus filhos e também nos meus netos e ela conclui:

-Ah, se cada um fizesse a sua parte...

Continuou em sua trajetória, atravessou a avenida e eu fui seguindo-a com o olhar, até quando ela parou na beira da calçada, cruzou a outra pista da avenida e depois desapareceu na rua Barão de Paranapiacaba, em direção da Conselheiro.

Lá ia, em seus trajes simples e com seu jeito também simples, uma raridade, uma cidadã consciente de seu papel no mundo.
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2 comentários:

Mariza C C. Cezar disse...

É isso aí meu amigo Carlos Gama, você também é uma raridade como essa simples e gentil senhora tão bem retratada por você como joia rara e cidadã comum, gente simples do nosso Brasil e gente boa que ainda existe no nosso país!
Continue sempre nos chamando, despertando o melhor em nós! Fazendo com que seus amigos acordem desse estágio dormente e acomodado e voltem a ser cidadãos conscientes e responsáveis, cônscios de seus direito e deveres!
Trazer imenso ler você, ouvir o que tem a dizer, sempre oportuno e enriquecedor! Abraços .Mariza C.C.Cezar

Carlos Gama disse...

Minha cara amiga Mariza.
Seja bem-vinda!
Eu escrevo por prazer, escrevo por necessidade de expressar o que sinto e o que vejo; às vezes sou um tanto cáustico, crítico, mas é preciso ser assim em alguns momentos, para ajudar a despertar a sociedade que está apática e alheia.
Ainda que escreva por prazer e necessidade, nada melhor que encontrar uma presença amiga, que lê atenta e compartilha dos mesmos sentimentos em relação à essência do texto.
Obrigado!