segunda-feira, 26 de maio de 2014

Realidade

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O vento meio frio do meio da tarde leva a ficar abrigado atrás do poste à espera de um ônibus. Enquanto isso, o bólido passa acintosa e criminosamente pelo vermelho na Washington Luiz com a Rodrigues Alves.

Faltam radares fotográficos nos semáforos – diz-se há muito tempo.

A calçada defronte do antigo H. Quintas já vai sendo recoberta de piso cerâmico, mas o ressalto que vai levar muita gente a tomar um tombo, parece que ninguém viu. É cômodo!

Na Ana Costa, o canteiro central nem bem esfriou e já está sendo refeito, afinal, o custo é zero...Para eles!

Lucro?

Não sei!

Na Galeão, a espera por um 53, 5 ou 40 levou exatamente uma hora, no final da tarde desta segunda-feira.

Ninguém sabe, ninguém viu nem vê, a não ser que interesse...
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segunda-feira, 19 de maio de 2014

Novos Ares

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O astro rei abre pequenas fendas no maciço de nuvens e lança seus raios sobre os muitos verdes que sobrevivem teimosamente na José Bonifácio.

Na praça arborizada, defronte ao Fórum da cidade, algumas senhoras se aquecem ao sol, esperando pela clientela escassa.

Segue o coletivo imundo; o cheiro persiste, vindo daqueles assentos sujos, levando a pensar na necessidade inadiável de levar toda a roupa do corpo à máquina de lavar, logo que se chegue em casa.

O “terminal” rodoviário faz jus ao nome.

Um vento gelado transita pelo final do outono, trazendo notícias frescas sobre a próxima estação.

Na Praça dos Andradas, a fachada do edifício da concessionária de energia elétrica mantém hasteados dois trapos mal reconhecíveis. Um deles em verde e amarelo e o outro em preto, branco e vermelho.

Dentro do terminal dos ônibus urbanos, ao lado do outro, buracos muitos esperam pelas vítimas passageiras.

Já à noite, na rua de casa, a lixeira que faz as vezes das outras duas, retiradas há meses e não repostas, transborda o lixo das redondezas.

Não fosse ofender os de quatro patas e rabo enrolado, eu diria que a cidade vai tomando indiscutíveis ares de um grande criatório.
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sábado, 17 de maio de 2014

Reflexões

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Sou um estranho neste mundo!

Da janela da sala de espera, no sétimo andar, eu esquadrinho o que fora o horizonte, hoje tomado por um sem-fim de torres de concreto. Uma mais alta que a outra, talvez metade delas ainda em construção e os meus olhos param sobre o mirrado edifício de 5 andares, que era o mais alto – dentro dos limites permitidos – da linha da máquina para o lado da “cidade” (centro) e reinava soberano sobre os outros todos, que não iam além do segundo andar. Térreo, primeiro e segundo; sem garagem. Eram tão poucos os automóveis!

Cinqüenta anos passados e muita coisa mudou...Grande parte, para pior.

Volto a me sentar, tento ler, mas os meus olhos pousam sobre um pai, já de cabelos agrisalhando e seu rebento mal educado, desorientado... Foram eles que me trouxeram a este pedaço de papel onde rabisco estas minhas reflexões sobre o passado e o tempo presente.

Um pai mal formado, parvo e despreparado, tem nas mãos uma pequena “trolha” eletrônica com que se distrai. O filho, futuro de um país que não se crê chegue por lá, tem as duas patas traseiras calçadas e apoiadas sobre o assento do sofá novo e estofado, do consultório médico.

Ao meu lado, meu neto Fernando, um dos bons exemplos que tenho de meninos bem educados, bem formados. Esse adolescente é gente e, um dos meus orgulhos.

Estamos à espera de atendimento e à espera de que o mundo melhore, que os pais consigam ser mais que meros fazedores de filhos e que esses filhos venham a ser mais que apenas o fruto de uma relação momentânea e física.

Ali, na sala de espera, um aviso afixado ao lado do aparelho de televisão:
“FAVOR NÃO SE ALIMENTAR NA RECEPÇÃO” (com destaques em vermelho).

Digo ao meu neto que dali, através daquela janela, é possível ver o fundo casa da casa herdada dos bisavós e que o "Edifício Elisa", ali defronte, era o único prédio alto deste lado da “linha da máquina”...

O animalzinho ainda mantém os cascos sobre o sofá; no alto, no 25º andar do edifício em construção, dois homens uniformizados caminham pelo beiral, sem qualquer proteção...Como se a vida pudesse ser paga pelo seguro.
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domingo, 11 de maio de 2014

Santos Comentada: Godos, Visigodos e Derivados...

Santos Comentada: Godos, Visigodos e Derivados...: . . . Depois de ler e me revoltar com aleivosias de cunho comercial, eu decido vir escrever mais um pouco e deixar pautadas essas minhas...

Godos, Visigodos e Derivados...

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Depois de ler e me revoltar com aleivosias de cunho comercial, eu decido vir escrever mais um pouco e deixar pautadas essas minhas observações sobre o arrastar-se imoral das sociedades humanas.
Eu havia terminado de escrever “Ovos Cozidos” e voltara à sala, onde ainda me esperavam alguns jornais do dia. Eram quatro e eu havia lido o primeiro e apenas enveredado pelo segundo, quando a dona da casa chama a minha atenção para uma propaganda encartada em um deles. Uma revista, em papel couché, propaga uma nova dentre as dezenas de novas torres de concreto que ensombram a cidade e nos assombram com seus resultados negativos já em curto prazo.
Empurrada para o meu lado, eu folheio a edição e de pronto comento com minha interlocutora, que é obra da mesma empresa que abriu mão do projeto na área da ACM. Abriu mão de levar adiante a elevação daquela torre, porque viu a inviabilidade comercial do empreendimento e decidiu não ir adiante, propondo-se a ressarcir os primeiros compradores habilitados. A ACM? Não sei como vai ficar...Ou não!
Voltemos à revista muito bem impressa e onde, somente no segundo folheio, eu descubro o endereço do monumento de concreto armado.
Fica na Ponta da Praia (um extremo da cidade, na orla marítima), de onde, afirma a construtora, é possível chegar ao centro da cidade em cinco minutos...Talvez, de helicóptero, se houvesse em ambos os locais pontos de pousos e decolagens. Continuam as informações “positivas” sobre as facilidades, afirmando que é possível chegar dali à fila da balsa em dois minutos e ao porto em quatro...Essas eu não contesto! Depois, dizem eles, a distância da capital é de cinqüenta minutos e do bairro do Gonzaga somente três. Em ambos os casos, só viajando no pensamento...
Nesse ponto eu me perco e já não sei se os engodos se tornaram hábito ou se é a certeza do alheamento do homem moderno quem sustenta tudo isso.
Sei, todavia, que vamos indo de mal a pior!
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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Impactos Ambientais, Sociais e Morais

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Eu escrevi este longo título há algumas horas, porque não queria me esquecer dos pensamentos que percorriam a minha cabeça naquele momento e eu sabia que não poderia desenvolver de imediato o conteúdo.

Eu revia as cenas dos incêndios mais recentes em algumas das favelas da cidade. Revia também, a imagem das favelas que rodeiam as instalações da siderúrgica em Cubatão, invadindo áreas de preservação ambiental. Lembrei-me de seu surgimento e de seu crescimento desmedido, quando a empresa levou adiante um "programa de demissão voluntária" dos empregados que haviam construído através de um sindicalismo forte, um também sólido mercado de trabalho onde a remuneração era digna. 

Com a saída desses empregados mais antigos, as vagas foram sendo preenchidas por novos “chegantes”, trazidos das regiões mais miseráveis do extremo norte da região sudeste, onde o quebrar pedras é o único meio de sobrevida ou das regiões mais áridas do nordeste.

Esses novos trabalhadores foram acolhidos em contêineres metálicos transformados em alojamentos, comiam das marmitas fornecidas pela empresa e conseguiam enviar o salário aviltado para manter a família sobrevivendo na própria região de origem.

Os meses foram passando e alguns deles acabaram arrumando mulher e fazendo filhos por aqui mesmo, construindo seus barracos nas encostas da região. Outros foram trazendo suas famílias originais e também se acomodaram como os outros, criando um novo bairro e recebendo apoio “moral” dos politiqueiros cheios de promessas vãs e de ganância pelo poder.

Ocorreu-me também pensar no impacto ambiental das construções de centenas de novos edifícios nas cidades da região, especialmente em Santos e foi aí que eu encontrei o caminho do crescimento desmedido das favelas que vêm pegando fogo nas últimas semanas.

Reli uma matéria, no jornal de hoje, sobre a primazia na elaboração de um Projeto de Impacto Ambiental...Pois sim!

Gostaria eu de ver o resultado do impacto (que ainda vai acontecer, apesar de minimizado), antes das oportunas alterações no traçado do VLT, que colocarão o "empreendimento" na cara de uma nova via, valorizando-o e reduzindo o brutal impacto que ocorreria na pequena rua (Barão de Paranapiacaba) que fica defronte dessa "obra".  Um trecho de rua, encravado entre duas das mais movimentadas avenidas da cidade, faria daquele pedaço uma amostra da balbúrdia que toma conta da cidade.

Agora, com as alterações havidas pela ação de poderosos intermediários, o conglomerado vai ter uma nova saída, uma nova avenida, construída à beira do muro dos fundos do projeto original. Nada como a influência, ainda que nefasta, do dinheiro farto.

Imagine-se a construção de três torres (três blocos de concreto), um deles recebendo um hotel com 234 quartos; um edifício de moradia com 106 apartamentos e um bloco com 290 unidades de escritórios; tudo isto em uma rua estreita, movimentada e que já conta com vários edifícios de moradia, além de uma universidade.

O poder de uns e a irresponsabilidade de outros são capazes de comprar e construir um inferno para a maioria...Uma maioria silenciosa e covarde, que acaba merecendo o fruto de sua omissão e de seu descaso.


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Em evidência (vermelho), a área mencionada no final do texto