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Não, o sanduíche
não era de lá!
Mas isso é outra
história.
Deixei o velório
da Beneficência e parei no portão, ainda meio indeciso entre ir para o Canal 2
ou pegar o ônibus na Carvalho. Enveredei pela Rua São Paulo com os olhos postos
no céu azul em meio a manhã de outono. Parei à sombra de um chapéu-de-sol para
olhar as mensagens no celular, mas não me demorei. Prossegui absorto, deixando à minha direita a
casa da Cássia, aonde em tempos idos eu levava as cartas datilografadas que ela
digitava e enviava por e-mail aos jornais. Passara a época de tomar ônibus e ir
entregar as cartas na portaria do jornal local ou enviar pelos Correios para a
capital. Algumas coisas, hoje parecem mais fáceis. Parecem, apenas parecem.
Pouco antes de
chegar à casa onde eu morara, do outro lado da rua o mesmo pequeno edifício
onde vivera a Elenira e também o Bravo; na casa ao lado falecera o Seu Narciso.
Segui adiante,
sempre me lembrando de quem morara aonde e logo estava na Carvalho de Mendonça,
bem defronte do bar onde, sempre a convite do Antônio Português, íamos tomar uma
Jurupiga nos sábados à tarde. Foi-se o tempo! Ali mesmo atravessei a rua
movimentada e logo descobri que o ponto de parada de ônibus não mais existia. Coisas
da politiquice e da força de persuasão corruptora. Em meio aos automóveis que
recobriam a faixa de segurança atravessei a Rua Amazonas e prossegui até quase
a esquina da Rua Pará, onde também moráramos no início da década de setenta.
Encolhido à sombra estreita da estrutura quase inútil do abrigo do ponto de
parada, um senhor de pequena estatura aguardava o coletivo.
Depois do bom
dia de praxe, logo entabulei conversa, criticando a estrutura de pouca
utilidade.
Conversamos por
um tempo relativamente longo, mas que passou rápido entre as lembranças de cada
um de nós.
Memórias de
melhores épocas; a educação que já não é a mesma; as crianças presas
irremediavelmente aos celulares; a cidade tranqüila de antanho e o próprio
bairro onde ele mora há trinta anos e onde eu aportei quando aqui cheguei em
sessenta e quatro.
Viemos para cá no
mesmo ano. Eu de São Paulo e ele de Bauru.
Acabamos
embarcando no mesmo ônibus - óbvio, pois ali só passa uma linha - e viemos
sentados no mesmo banco, continuamos conversando, descemos no mesmo ponto, mas
nenhum de nós perguntou o nome do outro.
Quem sabe algum
dia nos reencontremos e eu me lembre de perguntar ou ele, talvez.
Carlos Gama.
15/05/2019
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