segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Ao Som do Berrante

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Nascemos e fomos criados, da metade do século passado para cá, sem muitos luxos, sem muitas inúteis dependências, mas crescemos saudáveis, não nos escravizamos ao consumismo e aos ditames dos que nos vêem como gado a ser tocado ao som do berrante.

Gosto do que gosto e me pauto pelo consumo daquilo que está ao meu alcance, me agrada ou não me faz mal.

O calor tem sido intenso, mas não temos ar condicionado porque ele faz mal a quase todos nós. Temos ventiladores de teto, mas são usados como exaustores, para fazer circular o ar. O vento direto – disse-o em uma croniqueta já antiga – somente o que vem ao peito e ao rosto no tocar de uma motocicleta ou aquele que nos presenteia no mar aberto, na proa de uma embarcação.

Por esses motivos e não pela minha idade, como talvez venham a dizer alguns, fujo dos ares condicionados e não embarcava mais nos ônibus 154 e 155, porque aquele descontrole de temperatura me fazia mal.

Dia destes, por necessidade e falta de opção tomei um deles na Ana Costa mas, depois de mudar de lugar várias vezes, acabei descendo bem antes do meu destino, tal o frio que ali fazia. Esperei por outro, de outra linha... 

Sentei-me ao lado de uma senhora e comentei a estranha e desagradável aventura. Ela era da mesma opinião e também não mais viaja nesses ônibus areados e “wifizados”, feitos para a turma do dedão. O frio lhe ataca a garganta e já a deixou com gripe (se os doutos administradores pesquisarem, talvez cheguem a ver que vai crescer muito o número dos gripados nos ambulatórios municipais, especialmente agora quando as linhas “arejadas” já são muitas).

Ontem tomamos um dez para ir votar e era um desses novos, “afrescalhados” e, pior, nos mais novos, os degraus são mais altos, mais distantes do chão e eles têm somente duas portas (como os de antigamente), dificultando a locomoção interna. Faz uma tremenda falta aquela porta do meio. 




Entretanto, vocês que não sabem o que é andar de ônibus, nem irão perceber. E, se andassem, também talvez nem notassem, porque vivem no alheamento das funções públicas, andando em automóveis pagos por nós e, ainda pior, acabam reeleitos pela nossa incompetência em escolher, porque vamos no embalo das propagandas ou ao som grave/agudo dos berrantes boiadeiros.




Se vocês andassem a pé ou de ônibus, ao menos um dia na semana, teriam percebido os carros estacionados irregularmente (como nas fotos acima) ou o buraco junto ao meio-fio (nestas, abaixo):





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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Padrão Tiririca

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Saíramos de casa, passados vinte minutos do meio-dia, com destino um consultório médico na Avenida Dona Ana Costa, em Santos.

Ventava frio e caminhávamos depressa.

Quando chegamos ao cruzamento da rua Olinto Rodrigues Dantas, com a Avenida Ana Costa, o semáforo fechou para o trânsito dessa avenida e para os transeuntes no mesmo sentido.

Quando o primeiro dos automóveis, vindo da transversal, iniciou o cruzamento da via principal (onde os outros veículos já estavam parados na faixa de segurança), ele quase atingiu a lateral de uma perua escolar de número 174 (um veículo meio antigo), que ultrapassou pela direita os que estavam parados e cruzou no vermelho.

Uma ação criminosa e sem sentido, para ficar parado no cruzamento seguinte, com a Rua Dr. Carvalho de Mendonça.

Depois de mais um tanto de caminhada, também chegamos a esse cruzamento, atravessamos a primeira faixa de rolamento – na direção do Lar das Moças Cegas – e ficamos retidos no canteiro central, porque a abertura do semáforo para pedestres (entre eles, os deficientes visuais) se dá por raros segundos, no outro lado da via, que é para não reter em demasia os veículos automotores. Ao nosso lado, um casal de deficientes visuais ficou impaciente e o rapaz ia tentar atravessar, quando eu lhe disse que aguardasse. A maioria dos não deficientes acaba correndo o risco e atravessando no vermelho, porque o desinteresse ou a incapacidade dos gestores da coisa pública leva a isso.

Privilegiam o veículo automotor em detrimento do cidadão a pé.

Se você escrever para um jornal (como já aconteceu várias vezes) e ele publicar a sua observação, a resposta dos “responsáveis” invariavelmente abordará as estatísticas e os “padrões” europeus. Tomara os políticos brasileiros levassem em conta os padrões europeus na hora dos desmandos, dos salários e da produtividade.

Chegamos ao consultório e a televisão já estava ligada.

Abrimos cada um o seu livro e aguardamos.

Não demorou muito para entrar no ar a propaganda política “padrão Tiririca”, levada a cabo pelos dois partidos concorrentes à presidência da república.

Em matéria de nível de propaganda, fica difícil saber qual a pior.

Na hora da escolha, só poderemos nos pautar, mesmo, pelos exemplos mundo afora...
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