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Sou um estranho
neste mundo!
Da janela da
sala de espera, no sétimo andar, eu esquadrinho o que fora o horizonte, hoje
tomado por um sem-fim de torres de concreto. Uma mais alta que a outra, talvez
metade delas ainda em construção e os meus olhos param sobre o mirrado edifício
de 5 andares, que era o mais alto – dentro dos limites permitidos – da linha da
máquina para o lado da “cidade” (centro) e reinava soberano sobre os outros
todos, que não iam além do segundo andar. Térreo, primeiro e segundo; sem
garagem. Eram tão poucos os automóveis!
Cinqüenta anos
passados e muita coisa mudou...Grande parte, para pior.
Volto a me
sentar, tento ler, mas os meus olhos pousam sobre um pai, já de cabelos
agrisalhando e seu rebento mal educado, desorientado... Foram eles que me
trouxeram a este pedaço de papel onde rabisco estas minhas reflexões sobre o
passado e o tempo presente.
Um pai mal
formado, parvo e despreparado, tem nas mãos uma pequena “trolha” eletrônica com
que se distrai. O filho, futuro de um país que não se crê chegue por lá, tem as
duas patas traseiras calçadas e apoiadas sobre o assento do sofá novo e
estofado, do consultório médico.
Ao meu lado, meu
neto Fernando, um dos bons exemplos que tenho de meninos bem educados, bem
formados. Esse adolescente é gente e, um dos meus orgulhos.
Estamos à espera
de atendimento e à espera de que o mundo melhore, que os pais consigam ser mais
que meros fazedores de filhos e que esses filhos venham a ser mais que apenas o
fruto de uma relação momentânea e física.
Ali, na sala de
espera, um aviso afixado ao lado do aparelho de televisão:
“FAVOR NÃO SE
ALIMENTAR NA RECEPÇÃO” (com destaques em vermelho).
Digo ao meu neto
que dali, através daquela janela, é possível ver o fundo casa da casa herdada dos bisavós e
que o "Edifício Elisa", ali defronte, era o único prédio alto deste lado da
“linha da máquina”...
O animalzinho
ainda mantém os cascos sobre o sofá; no alto, no 25º andar do edifício em
construção, dois homens uniformizados caminham pelo beiral, sem qualquer
proteção...Como se a vida pudesse ser paga pelo seguro.
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