sábado, 17 de maio de 2014

Reflexões

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Sou um estranho neste mundo!

Da janela da sala de espera, no sétimo andar, eu esquadrinho o que fora o horizonte, hoje tomado por um sem-fim de torres de concreto. Uma mais alta que a outra, talvez metade delas ainda em construção e os meus olhos param sobre o mirrado edifício de 5 andares, que era o mais alto – dentro dos limites permitidos – da linha da máquina para o lado da “cidade” (centro) e reinava soberano sobre os outros todos, que não iam além do segundo andar. Térreo, primeiro e segundo; sem garagem. Eram tão poucos os automóveis!

Cinqüenta anos passados e muita coisa mudou...Grande parte, para pior.

Volto a me sentar, tento ler, mas os meus olhos pousam sobre um pai, já de cabelos agrisalhando e seu rebento mal educado, desorientado... Foram eles que me trouxeram a este pedaço de papel onde rabisco estas minhas reflexões sobre o passado e o tempo presente.

Um pai mal formado, parvo e despreparado, tem nas mãos uma pequena “trolha” eletrônica com que se distrai. O filho, futuro de um país que não se crê chegue por lá, tem as duas patas traseiras calçadas e apoiadas sobre o assento do sofá novo e estofado, do consultório médico.

Ao meu lado, meu neto Fernando, um dos bons exemplos que tenho de meninos bem educados, bem formados. Esse adolescente é gente e, um dos meus orgulhos.

Estamos à espera de atendimento e à espera de que o mundo melhore, que os pais consigam ser mais que meros fazedores de filhos e que esses filhos venham a ser mais que apenas o fruto de uma relação momentânea e física.

Ali, na sala de espera, um aviso afixado ao lado do aparelho de televisão:
“FAVOR NÃO SE ALIMENTAR NA RECEPÇÃO” (com destaques em vermelho).

Digo ao meu neto que dali, através daquela janela, é possível ver o fundo casa da casa herdada dos bisavós e que o "Edifício Elisa", ali defronte, era o único prédio alto deste lado da “linha da máquina”...

O animalzinho ainda mantém os cascos sobre o sofá; no alto, no 25º andar do edifício em construção, dois homens uniformizados caminham pelo beiral, sem qualquer proteção...Como se a vida pudesse ser paga pelo seguro.
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