sábado, 15 de junho de 2019

Não Diga

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Não diga que eu falei, porque refuto.
Não falei, escrevi.
Sim, escrevi porque há várias razões para isso.
Escrevi porque posso me expressar sem que deva controlar o meu emocional;
Escrevi, porque a palavra impressa não pode ser desmentida, seja por um, seja por outro;
Escrevi, mas posso desdizer o que está grafado e esse é o signo daqueles que pensam, que raciocinam, que analisam e não se envergonham de reconhecer o engano e de retornar sobre os próprios passos;
Não diga que eu falei, porque ainda que possa tê-lo feito, as palavras se perdem no éter, na desmemória ou até na fúria de um momento de desatino e eu posso realmente não me lembrar e por isso escrevo, escrevo, escrevo até de forma compulsiva, porque esse desabafo acalma o meu espírito e não afronta a ninguém que não leia os meus pensamentos;
Penso, penso, penso sempre tão rapidamente, que quando chego até aqui, ao computador, muitas vezes já não me lembro daquilo que pretendia expressar, por isso me agradam mais a caneta e o papel;
Chego até aqui e as cenas já estão confusas, são pinceladas soltas na tela em branco da minha memória provecta, mas eu me lembro de ter pensado na frase “malhar em ferro frio”, porque ela me conduziu às lembranças das muitas ferrarias que conheci ao longo de uma vida de menino apaixonado por cavalos, pelo seu relincho, pelo seu cheiro, pelo seu olhar geralmente amigo, pelo seu dorso acolhedor...
Perco-me aqui, porque o carro dos ovos chegou... São quarenta avos... E não há quem fiscalize essa baderna em que vai se transformando a cidade.
Volto à ferraria e a memória visual do menino traz a imagem de uma barra de ferro cortada no tamanho exato para a confecção de uma ferradura, vejo-a na forja, avermelhando até ao ponto de ser malhada; volta a pequena barra às garras da torquês de cabo longo...  E, o carro dos ovos chegou... Pode um cidadão pensar em paz?
Avermelhada ao ponto exato vai a matéria-prima para a bigorna, onde a marreta manuseada com a maestria de anos e anos de prática diária lhe arredondará as formas.
Dane-se o carro dos ovos, que não silencia; danem-se todos os que mamam nas tetas da rês pública e não fazem por merecer.
Depois vêm as eleições e você achará de dizer que eu devo continuar votando, porque as coisas precisam tomar um jeito. Sim, as coisas que tomam jeito são as contas bancárias, as propriedades, as comissões e o diabo a quatro, mas o carro dos ovos chegouuuuuuuuuuuuuuu...


Carlos Gama.
15/06/2019 10:41:26
* Por respeito a você, algumas expressões mais duras foram retiradas ou substituídas, mas a raiva e o inconformismo permanecem.
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